quarta-feira, 1 de julho de 2009

A linguagem cinematográfica


Cena 1: A primeira imagem mostrada é um plano geral (PG) da vista do apartamento de ANA, entra em choque direto com a imagem clássica de Paris com a torre Eiffel marcando o Horizonte. Neste a câmera em contra-plongeé prioriza os prédios do conjunto habitacional, não permitindo ao espectador nenhum ponto de fuga em seu olhar.
Cena 2: Aqui o som dita o ritmo. O som do despertador é do modelo clássico, porém o relógio que é mostrado é um dos modelos populares encontrados a um preço bem barato. Isto se deve à imediata identificação do público com o som e compactuando-se com o desconforto de acordar bem cedo. Mesmo existindo vários sons de vários modelos de despertadores, este foi eleito pelos realizadores pelos motivos anteriores. A câmera agora em plano médio (PM) de ANA está em plongeé fazendo com que a personagem cresça aos olhos do espectador e adquira força para o que está por vir. Reforça-se a isso a expressão de reflexão da atriz por cerca de dois segundos na cena.
Cena 3: Em plano geral (PG) ela caminha com o filho aos braços, entre várias pessoas. A câmera a acompanha com uma panorâmica (PAM) onde se dirige a um prédio. A atriz veste predominantemente um figurino na cor azul-celeste, lembrando também que a atriz foi protagonista do filme “MARIA CHEIA DE GRAÇA”, onde o nome MARIA carrega um significado importantíssimo na América Católica.
Cena 4: Novamente em plano geral (PG) tomamos ciência que o prédio em que ANA se dirigia na cena anterior é a creche do conjunto habitacional, vemos que mesmo sendo uma creche pública suas instalações são grandes, ficando o destaque nesta cena para a montagem quando ANA ao colocar seu filho e afastar-se retorna para confortá-lo. Nota-se que o sentido da câmera se mantém o que em princípio poderia causar um “pulo” no corte, mas isto é resolvido pelo movimento de ANA ao afastar-se e aproximar-se do berço, o corte no movimento permite uma fluidez que não causa estranhamento ao espectador. Nesta cena temos o ponto chave do curta que é a canção de ninar cantada por ANA “que linda manito”, há uma forte semelhança nos planos desta cena com a cena 10, que explicarei adiante.
Cenas 5, 6, 7 e 8: Nestas cenas, sempre com câmera na mão, há uma montagem de vários transportes que ANA utiliza no seu dia a dia e as estações de baldeação, sempre cheias e mostrando as pessoas com pressa. O movimento da personagem pelos corredores combinado com o movimento do transporte que ANA usa dá um ritmo acelerado às cenas, reforçadas pelos cortes secos e rápidos de cada plano.
Cena 9: Novamente em plano geral (PG) registra-se a mudança radical de ambiente, pois o plano geral (PG) é resgatado somente depois das cenas de transição entre o lugar onde mora e o lugar onde trabalha. Em todas as cenas anteriores o espectador não tem ciência da mudança de paisagem que acontece no percurso de ANA, somente quando ela sobe as escadas. As pessoas neste lugar andam em outro ritmo, ANA destoa na velocidade em que se desloca.
Cena 10: Aqui o plano geral (PG) registra uma luxuosa cozinha planejada demonstrando o poder aquisitivo elevado da proprietária. Nesta cena trava-se o único diálogo existente no curta, onde ANA pronuncia apenas as palavras “sim” e “não” criando uma impressão que ainda não domina totalmente o idioma. Outro ponto interessante é que em nenhum momento a PATROA aparece em cena, o que se mostra totalmente coerente com a proposta, pois se fosse mostrado um outro personagem o diálogo mostrado ganharia força com a imagem da patroa, omitindo visualmente esta, o espectador a nota somente pela utilização de voz off no diálogo, pelo som do salto no piso e pela batida final da porta do apartamento, valorizando a montagem das imagens na obra. Há também a utilização do primeiro plano (PP) sobre a personagem para demonstrar suas reações faciais ao ouvir que a patroa atrasará na volta, a expressão de subserviência, passando pelo desconforto até atingir o estado de raiva (quando ouve o choro do bebê) e retornando a resignação igualmente no mesmo tempo quando ela acorda em seu apartamento, não há tempo para reflexão de ANA. Ao aproximar-se do berço, a câmera encontra-se posicionada igualmente ao plano da creche. ANA faz o mesmo movimento, porém com algumas diferenças fundamentais. Primeiro seus cabelos estão presos, normalmente uma forma de conduta no trabalho, no caso de babá. Depois ao inclinar-se para cantar a mesma canção de ninar, o bebê no berço é nitidamente apresentado fora de foco afastando qualquer forma de intimidade tanto de ANA como do espectador em relação ao bebê, muito diferente do filho na creche, acentuado pelo toque da mão de ANA o que não acontece com o bebê da patroa, onde sua mão apenas paira sobre o berço, e finaliza com seu olhar pela janela com o último plano mostrando a imagem do bairro, remetendo imediatamente ao primeiro plano do curta, a imagem do bairro onde mora.
Um fato interessante, que obviamente não foi levado em consideração pelos realizadores, foi a escolha da atriz. Seu próprio nome: Catalina Sandino Moreno. CATALINA, nome de origem grega significa “pureza”, o que é um dos adjetivos quando relacionados à figura materna, SANDINO nos aponta ao líder revolucionário nicaragüense Augusto César Sandino (1895 – 1934) inspiração da FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional) nas décadas de 70 e 80 na Nicarágua e MORENO, que é a cor predominante nas pessoas da América Latina.

História e Estética do Vídeo


Ao iniciarmos o processo de realização da obra audiovisual, detivemo-nos em alguns parâmetros:
a) Utilizar imagens já existentes
b) Utilizar produção sonora já existente
Estabelecido este sistema de criação, buscamos nos debates e reflexões ocorridas em sala de aula durante este bimestre, quais pontos poderíamos trabalhar no Vídeo pretendido.
A opção recaiu sobre o tema “DIÁLOGO”.
Utilizamos então dois aspectos da tecnologia científica amplamente utilizados na indústria humana: A Engenharia e a Medicina.
Na primeira buscamos ruídos intimamente ligados conosco e com milhares de usuários que é o metrô. A diversidade dos mesmos é imensa, sendo compostos por vozes, sinais eletrônicos, atrito entre rodas e trilhos amplificados pela arquitetura presente, abrir e fechar de portas, mensagens vocais.....
Na segunda uma imagem interna do corpo humano, mais especificamente do nariz. A câmera é utilizada para investigação das cavidades nasais em um procedimento pré-operatório (operação de desvio de septo).
O ponto de partida foi o movimento. Em ambos tanto a câmera quanto o metrô deslocam-se em um espaço vital no corpo e na cidade.
A partir disto estabelecemos o diálogo sonoro dentro das velocidades empreendidas através de túneis e meatos (canais nasais).